Jogos de Adivinhações - explorando o universo da memória

“Kimball O´Hara, conhecido simplesmente como Kim, era filho de um sargento de um regimento irlandês na Índia. Seu pai e sua mãe morreram quando ele era uma criança, e foi então entregue aos cuidados de uma tia. Seus companheiros de brincadeira e de jogos eram todos meninos hindus, e assim aprendeu a língua e os costumes deles. Tornou-se um grande amigo de um sacerdote que andava em peregrinação, e com ele viajou por todo o norte da Índia. Um dia encontrou por acaso, em marcha, o antigo regimento do seu pai que resolveu então tomar conta dele e começar a educá-lo. Mas sempre que, nas férias, podia sair da escola, Kim vestia-se com roupas hindus e vivia entre os naturais da terra, como se fosse um deles.
Depois de algum tempo Kim conheceu um tal senhor Lurgan, que mercadejava em joias antigas e curiosidades, e que devido ao conhecimento que tinha dos habitantes locais, era também um membro do Serviço Secreto do Governo. Este homem, vendo o conhecimento incomum dos hábitos e costumes locais que Kim possuía, achou que ele poderia vir a ser um agente muito útil. Passou então a dar-lhe lições sobre como notar e lembrar-se de pequenos detalhes.
Lurgan começou por mostrar a Kim uma bandeja cheia de pedras preciosas de diferentes qualidades. Deixou que este o contemplasse por um minuto, e então a cobriu com um pano, perguntando-lhe depois quantas pedras havia e de que qualidades. Inicialmente Kim só lembrou de umas poucas, sem poder, entretanto, descrevê-las em detalhes, mas depois de adquirir um pouco de prática, passou logo a se lembrar perfeitamente de todas. E o mesmo sucedeu com muitos outros objetos que lhe foram mostrados da mesma maneira.
Afinal, depois de muitas outras formas de adestramento, Kim se tornou membro do Serviço Secreto, deram-lhe um medalhão para usar em torno do pescoço e uma determinada frase, que enunciada de uma certa forma, indicaria sua afiliação ao Serviço.”
Adaptado aos longos dos anos dessa breve história, e um dos jogos de memória mais tradicional no escotismo, o jogo do kim é uma forma divertida de treinar nossa memória, nos mais diversos aspectos. Quando os jovens falam de Escotismo, contando aos amigos as novidades, são os jogos que causam a maior impressão, e isto não ocorre por acaso. O Movimento Escoteiro, quando foi idealizado pelo seu fundador, Baden Powell, utilizou-se sempre do efeito “mágico dos jogos”. Os jogos são meios pelos quais os fins educacionais do Movimento são atingidos. Esta vontade natural de competir, tão comum nos jovens, os acompanha desde a infância, dotando-os de espírito de tolerância, da vontade de progredir, do respeito pelas regras e pelos companheiros, da cooperação.
Já na preparação do jogo notamos a ansiedade e a curiosidade nos participantes da atividade. Enquanto os aplicadores separam e organizam os objetos sobre a mesa (ideal entre 20 a 30 objetos), o grupo vive a expectativa do que estará por vir. Ao entrarem na sala observam uma mesa coberta por uma toalha, sob a qual se encontram 26 objetos variados. Para dar uma emoção maior ao jogo e proporcionar aspectos de cooperação e trabalho em grupo, a turma foi dividida em cinco equipes composta por cerca de 3 a 4 integrantes cada.
Quando descobrem que debaixo daquela toalha estariam objetos que deveriam observar por um determinado tempo e tentar memoriza-los, não apenas o nome em si, mas suas principais características, para posteriormente descrevê-los junto com sua equipe, com objetivo de tentar enumerar detalhadamente o maior número possível de objetos, observa-se a apreensão e a curiosidade dos participantes, bem como uma tentativa singela de já se montar alguma estratégia que pudesse levar suas equipes ao êxito. Atenção, concentração e expectativa até o momento em que os objetos são presentados.
Passado o tempo pré-determinado os participantes rapidamente se reúnem em seus grupos e começam a descrever em um pedaço de papel todos os objetos que pudessem se lembrar. O caos se instala, as estratégias não foram seguidas em sua plenitude. Anotações aleatórias tomam o espaço de uma lista sequencial e organizada por grupo. Na expectativa de ver seu grupo vencedor, atitudes individualistas por vezes prevalecem sobre o espírito de equipe. Cada um tenta descrever o que viu, de forma isolada ou discutindo e trocando ideias com o grupo. Ao final do tempo para descrever os objetos, os grupos, ao invés de uma lista organizada por equipe, apresentaram várias listas que muitas vezes traziam o mesmo objeto repetidamente.
É a hora da verdade, inicia-se a conferência das listas. Discordância na descrição do objeto feita por outros grupos gera um conflito entre as equipes. Cada um achando que sua descrição estava melhor. Por fim, é dado o resultado, a equipe vencedora se glorifica por ter atingido o objetivo de descrever a maior quantidade de objetos. As equipes perdedoras lamentam-se por ter esquecido aquele objeto tão óbvio. Discutem entre eles o que poderia ter dado errado, qual estratégia não funcionou, e a certeza de que, em uma próxima tentativa, possam se sair melhor.



O jogo do Kim possui suas regras, seu tempo e espaço próprios, trazendo prazer e divertimento aos que voluntariamente participam, além de contribuir com o aprendizado e a memória dos jogadores. Pode ser realizado de diversas maneiras, tanto na forma tradicional (visual) como em uma de suas variantes, aproveitando-se de todos os sentidos (tato, gustação, olfato, audição, etc.). No jogo podemos inserir objetos conhecidos, ou mesmo desconhecidos dos participantes, que nos levam a aguçar nossa memória e a conhecer e vivenciar novas experiências.
A variação proposta foi testar o paladar, nossa capacidade de reconhecer os gostos de substâncias colocadas sobre a língua, através da degustação de sucos de frutas naturais. Foram oferecidas 10 variedades de sucos de frutas que os participantes provaram, um a um, de forma sequencial. Ao final, cada equipe deveria fazer uma lista, na sequência correta que foram servidos, contendo qual o sabor de cada suco. Novamente a apreensão e expectativa tomou conta de todos. Caras e caretas não faltaram durante a degustação. Que suco é esse? Nunca provei essa fruta! Eram alguns dos questionamentos entre os participantes, que alternavam com questões contrárias como: Essa é fácil! Já provei desse suco. Os integrantes de cada grupo, dentro de suas estratégias, discutem para chegar a um veredito final sobre qual o sabor de cada suco provado.
Ao final da degustação, as equipes iniciam a descrição sequencial de cada suco através de uma lista que foi entregue para conferência. Inquietação e esperança durante a conferência das listas e na revelação do sabor de cada suco. Espanto, alívio, dúvida, alegria, tristeza... Sentimentos observados no grupo após descobrirem os sabores. Anunciada a equipe vencedora as discussões continuam: Nunca comi essa fruta? Como pude confundir essa fruta tão fácil? Não acredito que era essa fruta!


Notadamente esse, como diversos outros jogos, contribuem para o desenvolvimento humano: cognição, iteração, aquisição, simbolismo, regras... além de uma grande troca de experiências, competição, cooperação, exploração dos sentidos, entre outros aspectos. O jogo do kim e suas variantes, além de sua potencialidade para ativar nossa memória e sentimentos, pode ser utilizado facilmente como um jogo inclusivo, onde podem participar indivíduos que possuem algumas limitações ou deficiências. Então não percamos tempo: Vamos jogar?




Campo Grande, MS.
UFMS, semestre 2018.2, período de inverno.

Acadêmicos:

Alvanter Garcia Morais
David José Gonçalves Oliveira

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